
A uva mais famosa e plantada do mundo não chegou ao posto por acaso. Conheça a história, os vinhos e as clássicas harmonizações com a tinta ícone de Bordeaux
“Quero um tinto, Cabernet Sauvignon.” Se você trabalha ou gosta de vinhos, certamente deve ter ouvido, ou mesmo feito, esta solicitação. A Cabernet Sauvignon é a uva mais plantada para vinhos do mundo, e seu nome é, em muitos lugares, sinônimo de vinho tinto.
História e preferência pela Cabernet Sauvignon
Sua origem foi por muitos anos discutida. O uso de DNA pela equipe da Universidade Davis, da Califórnia, nos Estados Unidos, comprovou que a variedade surgiu do cruzamento entre a Cabernet Franc e a Sauvignon Blanc, possivelmente em Bordeaux, na França, no século XVII.
O passaporte francês ajuda a entender a popularidade da uva entre produtores e consumidores. Do lado dos primeiros, a história consagrada e antiga da região de Bordeaux, responsável por alguns dos melhores e mais caros vinhos do mundo, chamou a atenção de vinícolas e negociantes ansiosos por inspirar seus vinhos e vendas na região francesa. Já a parte dos consumidores foi, com o tempo, “conquistada” pela grande oferta de vinhos de boa qualidade elaborados com a uva. Ela, aliás, foi uma das primeiras elaboradas em estilo varietal a conquistarem a atenção - e o paladar - dos consumidores americanos na década de 1980.
Para além disso, a Cabernet Sauvignon é uma uva de bom rendimento, que cresce relativamente fácil e tem bom desempenho tanto em climas quentes quanto naqueles um pouco mais frios. Os países cuja uva tem maior relevância são França, Estados Unidos, Itália, Chile, Austrália, África do Sul e Argentina.
Muitos climas, mas vinhos consistentes
As possibilidades de elaboração de vinhos com Cabernet Sauvignon variam muito conforme a região, mas o perfil do vinho não se altera tanto. De amadurecimento tardio, geralmente já entrando no outono, a variedade se beneficia bastante do clima quente e seco na fase final de maturação para completar seu ciclo totalmente.
Os vinhos elaborados nas regiões mais quentes, como Austrália e Estados Unidos, são mais frutados, têm mais álcool e menos tanino e acidez; já os elaborados em regiões mais frias, como Bordeaux, sutis notas de violeta, tabaco e aromas mais terrosos são mais facilmente perceptíveis do que a fruta em si.
Além de consistente, a Cabernet é uma variedade que adapta-se bem à passagem por barricas de carvalho, assegurando notas de cedro, tabaco e chocolate que agradam a muitos consumidores. O perfil geralmente seco, tânico e encorpado dos vinhos feitos com a CS, no entanto, não são ideais para os bebedores de primeira viagem.
O Julgamento de Paris
Da lista dos países que plantam a variedade - que é muito extensa, aliás -, França e Estados Unidos produzem, cada qual em seu estilo, o que são considerados os melhores vinhos da variedade no mundo.
Em 1976, o britânico Steven Spurrier promoveu, em Paris, uma degustação às cegas de rótulos brancos e tintos, americanos e franceses, para nove consagrados críticos da França. Incrédulos, os franceses, e também Spurrier, que não esperava tanto, elegeram vinhos dos Estados Unidos em primeiro lugar nos brancos e nos tintos, com o Cabernet Sauvignon safra 1973 da Stag’s Leap Cellars, do Napa Valley, em primeiro lugar.
Cabernet Sauvignon e comida
Encorpado, tânico, potente… Vinhos elaborados com a Cabernet Sauvignon definitivamente não são boa companhia para pratos leve e delicados. Sua estrutura pede proteínas e gordura, que reduzem a percepção do tanino na boca. Tente um Cabernet Sauvignon do Chile, como o Primus, com um bom assado de costela ou maminha, ou um hamburger com cogumelos, que une gordura e umami, ao argentino Tapiz Classic Cabernet Sauvignon, e você estará mais do que bem servido.
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…outros vinhos com estrutura similar, como o Malbec, que possui boa parte das características exceto os taninos salientes; a Touriga Nacional, com suas notas de violeta e cereja; a Carménère, geralmente um pouco mais herbácea mas que guarda similaridades, especialmente na hora de harmonizar, e a Nero d’Avola, uma uva de taninos firmes e notas de frutas negras.