A palavra terroir não tem uma tradução exata, mas carrega muitos significados. Confira a que ela se refere e como isso influencia os seus vinhos.
Não há tradução precisa para a palavra de origem francesa terroir. A mais próxima, e que vem à mente em primeiro lugar, como apontam Jancis Robinson e Hugh Johnson em seu World Atlas of Wine, é “terreno”. Não que esteja errado, mas o terreno é apenas peça deste conceito que se propagou primeiro entre os vinhos do Velho Mundo.
O terroir significa, para os mesmos autores, o ambiente total de crescimento e desenvolvimento das vinhas, incluindo aí terreno (solo e altitude), clima e, para alguns autores, tradição.
Terreno: apenas uma parte do todo
O terreno é parte do conceito de terroir, mas uma muito importante. A altitude em que as vinhas são plantadas são um dos fatores que podem possibilitar a cultura da uva, como na tórrida Salta, na Argentina, onde os vinhedos a mais de 1700m de altitude permitem cultivar uvas de extrema qualidade muito próximo do Equador).
Além da elevação, as características geológicas do lugar trazem alterações importantes ao vinho, como, por exemplo, a proximidade da zona de Casablanca, no Chile, onde são elaborados os vinhos da Ritual, do Oceano Pacífico, que refresca a região com as neblinas da manhã.
A flora local, como plantas e micróbios, também faz parte do amplo conceito de terroir. O uso de leveduras indígenas na promoção da fermentação do vinho, como no caso do Crua Chan Malbec, da Gen del Alma, utiliza as leveduras presentes no próprio ambiente, destacando as características locais.
O solo e suas muitas camadas e características
As centenas de tipos de características de rochas e depósitos minerais presentes nos vinhedos, bem como suas propriedades químicas e físicas, causa grande variação no resultado final de um vinho mesmo em locais muito próximos.
No Dão, por exemplo, os solos de granito retém calor, tem boa drenagem e contribuem para notas minerais nos vinhos, como acontece com os vinhos da Pedra Cancela.
Calicatas são estruturas escavadas que permitem aos enólogos e engenheiros agrônomos melhorarem o conhecimento do perfil de solo e terreno no qual as vinhas estão ou serão plantadas.
Clima, o fator mais fácil de se observar
Componente extremamente importante, o clima é um dos fatores que mais influenciam a qualidade do vinho. Em geral, climas frios geram vinhos com menor açúcar residual e mais frescor, enquanto as de clima quente apresentam níveis de açúcar mais alto e sabores mais especiados, como os vinhos do Sul da Itália.
O clima também determina se é viável ou não a produção de uvas para vinhos em determinados locais, tanto por questões de qualidade quanto por questões práticas.
A tradição e suas características
Por fim, a tradição pode entrar no conceito de terroir quando envolve práticas vinícolas e/ou de cultivo que influenciem no resultado final de um vinho.
No Douro, por exemplo, a pisa da uva a pé, em lagares tradicionais de granito, é muito tradicional, e gera vinhos com maior extração de cor e taninos, como o Palavrar.
Na Serra Gaúcha, uma uva muito tradicional, de mesa, a Isabel, foi utilizada pela Aventura para elaborar um maravilhoso rosé seco que representa muito do que foi a história da vinificação local.
Diferentes terroirs, diferentes possibilidades
O mais importante é entender que os vinhos são diferentes e mudam, ainda que cultivados ao mesmo tempo, da mesma maneira e em lugares muito próximos.
Mais que uma busca por originalidade, o terroir pode ser encarado como diversos mundos a serem descobertos, como, por exemplo, avaliar em uma degustação Malbecs com o mesmo tempo de madeira (ou sem), da mesma safra, elaborados no mesmo local por diferentes vinícolas da Argentina.
É justamente esta diferença, aliada à qualidade, que faz a prova de diferentes tipos de vinho tão apaixonante. Saúde!
