Como funcionam as pontuações dos vinhos?

Como funcionam as pontuações dos vinhos?

Os pontos são, quase sempre, trabalho de críticos que avaliam seus vinhos de forma independente ou para revistas. Saiba mais sobre os principais sistemas de pontuação, como elas são formadas e quais são os principais críticos. 

Sistemas de pontuação: a necessidade de classificar

O ser humano sempre teve necessidade de classificar as coisas, o que dá um senso de organização a tudo. Com o vinho e seus milhares de diferentes tipos de uvas, regiões e safras, não poderia ser diferente. 

O surgimento das pontuações no mundo do vinho surge, porém, com interesse acadêmico, em 1959, no departamento de Viticultura e Enologia da UC Davis, na California. Lá, o Dr Maynard Amerine desenvolveu inicialmente o sistema de 20 pontos, atribuindo pontos para cor, aroma e sabor além de outras avaliações mais técnicas que incluem o equilíbrio de açúcares, ácidos, taninos e acidez volátil. A escala de 20 pontos é comumente dividida da seguinte maneira: 

Classificação de 20 pontos
Pontos Significado
20 Excepcional
19 Notável
18 Excelente
17 Ótimo
16 Muito bom
15 Bom
14 Regular
13 Ligeiramente desequilibrado ou com pequenas faltas
12 Desequilibrado e com faltas mais graves
Classificação de 20 pontos

Como se pode ver, a tabela de 20 pontos geralmente não chega a menos de 12, sendo que, de 14 para cima, o vinho pode ser considerado ao menos interessante. A classificação até 20 foi utilizada por bom tempo pela maior parte dos críticos, sendo que, atualmente, ainda o é. Jancis Robinson, por exemplo, ainda a emprega, e as publicações portuguesas Revista de Vinhos e Vinho Grandes Escolhas a seguem utilizando. Em larga escala, a classificação utilizada é a de 100 pontos, tornada popular por Robert Parker e pela Wine Spectator. 

Classificação de 100 pontos
Pontos Significado
95 - 100 Um vinho excepcional
90 - 94 Excelente, um vinho de caráter e estilo superior
85 - 89 Muito bom, um vinho com qualidades especiais
80 - 84 Bom, um vinho bem feito
75 - 79 Regular, um vinho “bebível” que pode ter algumas falhas
50 - 74 Não recomendado
Classificação de 100 pontos

Por ser mais clara e fácil de compreender que a tabela de 20 pontos, já que avaliamos, desde nossa vida escolar, notas em escalas de 10 ou de 100, esta passou a ser a forma dominante de se avaliarem os vinhos. 

Nota-se, claro, que mesmo a lista de 100 pontos não parte do zero, mas sim de 50. 

Estou comprando um vinho pontuado. O que esperar? 

Um vinho pontuado e avaliado é, em primeiro lugar, isso mesmo. Confuso? Explicamos: como nem todos os vinhos - principalmente, por serem muitos - são avaliados por alguém isento antes de bebermos, os pontuados e classificados já passaram por uma primeira seleção. 

Imagine que você está diante de uma prateleira, ou site, com um sem-fim de rótulos desconhecidos. Como escolher? Os pontos dão uma primeira pista sobre a qualidade do vinho, dizendo que este produto já foi degustado e classificado por alguém com certo nível de confiança. É, sem sombra de dúvidas, uma importante indicação que muito ajuda na hora da compra. 

Quer dizer que, comprando um vinho pontuado, certamente irei gostar? Não. Como diz nosso parceiro, o sommelier tricampeão brasileiro Diego Arrebola, no mundo do vinho, tudo depende. Um crítico avalia com grande capacidade de isenção, mas, no fundo, ainda é um ser humano, com seus gostos e preferências, que podem ser diferentes dos nossos. É altamente provável que um vinho com mais de 85 pontos nos agrade, mas não é garantido. 

Nestes casos, uma boa dica é acompanhar as avaliações dos críticos e conferir se o seu gosto está de acordo com o de quem avaliou aquele determinado produto, buscando um padrão. 

E os vinhos sem pontos, como fazer? 

Vinhos que não foram pontuados podem não ter passado pela avaliação de nenhum crítico. Isto é bem mais comum do que se imagina, pois as avaliações podem custar caro para a vinícola, para o crítico/publicação ou para ambos. Ainda, tal safra ou marca pode nem ter chego ainda à taça de quem avalia, pois são lançados muitos produtos, em muitos países, todos os anos.

Isto não quer dizer que um vinho sem ponto nenhum seja ruim, muito pelo contrário. No final das contas, a sua avaliação é a que vai importar. Portanto, vinhos sem pontos são uma folha em branco no aguardo da sua prova e da sua avaliação. 

Utilizando as escalas: guias, revistas e críticos 

Publicações de vinhos são muito comuns atualmente, e uma de suas principais atividades é avaliar vinhos em escala de pontuação para seus leitores. As avaliações podem ser conduzidas de maneira diferente por cada publicação, sendo comum, nas grandes publicações como Decanter e Wine Spectator, por exemplo, o uso de editorias para determinados países ou regiões, com a avaliação dos vinhos sendo responsabilidade destas. 

Estas avaliações podem ser realizadas com vinhos que são enviados gratuitamente pelas vinícolas ou seus importadores ou comprados pelas publicações. Elas também podem ser feitas às cegas, especialmente quando se tratam de painéis, ou com o conhecimento prévio dos rótulos. Quem degusta geralmente é creditado pela publicação por sua avaliação. 

Decanter

Escala de 100 pontos

Fundada em Londres em 1975, a Decanter é a mais tradicional e, talvez, a mais respeitada publicação de vinhos do mundo. Em seus mais de 40 anos, a publicação teve diversos colunistas de peso, como Steven Spurrier, Hugh Johnson e Tim Atkin, e realizou inovações interessantes, como a primeira degustação às cegas publicada, com o tema “vinhos tintos por menos de £1.50”, em 1978. 

Além da revista, a Decanter tornou-se, com o tempo, organizadora de importantes eventos e concursos, como o Decanter World Wine Awards, a maior competição de vinhos do mundo, que conta com mais de 15 mil vinhos participantes a cada ano. 

A Decanter, atualmente, conta com diversos degustadores e editorias, que são responsáveis por diferentes regiões e estilos. 

Wine Spectator

Escala de 100 pontos

Praticamente contemporânea à Decanter, a Wine Spectator foi fundada em 1976, nos Estados Unidos, um ano apenas após o surgimento da publicação inglesa. Da mesma maneira, a Wine Spectator também tornou-se uma importante promotora de eventos e degustações para seus assinantes e público em geral. 

Avaliando cerca de 15 mil vinhos às cegas todos os anos, a Wine Spectator tem uma declaração (http://images.winespectator.com/wso/pdf/WShowwetasteLTRb.pdf) onde explica o motivo das provas serem sempre sem que se conheça o rótulo do vinho. Os degustadores, no entanto, realizam as provas quase sempre no estilo single-blind, ou seja, não têm informações sobre rótulo, produtor ou preço, mas sabem os aspectos gerais, como safra, origem e, quando apropriado, a variedade da uva. 

Anualmente, desde 1986, a Wine Spectator divulga sua lista dos 100 melhores vinhos degustados ao longo de cada ano, com base em qualidade, custo-benefício e disponibilidade do vinho nos Estados Unidos (para onde a publicação é dirigida).

Wine Enthusiast

Escala de 100 pontos

Fundada em 1988 pelo casal Adam e Sybil Strum, a Wine Enthusiast surgiu como um catálogo por correio que levava informação sobre vinhos e seu estilo de vida. A ideia fora uma extensão do negócio do pai de Adam, já um vendedor de vinhos. Atualmente, a publicação se desdobra em várias outras atividades e também conta com um e-commerce voltado à venda de acessórios de vinhos que vão de saca-rolhas a caves sob medida. 

A Wine Enthusiast degusta, por meio de suas editorias, mais de 25 mil rótulos anualmente. Os vinhos para o Buying Guide são degustados às cegas, em conjuntos de 5 a 8 amostras por vez, com os avaliadores conhecendo o contexto do vinho mas não seu preço nem produtor, de maneira similar à Wine Spectator. 

Vinho Grandes Escolhas

Escala de 20 pontos

Orientada para o mercado de Portugal, a Vinho Grandes Escolhas é uma publicação de vinhos, gastronomia e lifestyle criada por Luis Ramos Lopes, um dos mais importantes jornalistas de vinho de Portugal e da Europa e também fundador da Revista de Vinhos. 

Degustando diversos vinhos portugueses a cada ano, a V Grandes Escolhas divulga, todos os anos, o Prémio Grandes Escolhas, elegendo os melhores vinhos degustados no ano e também as personalidades destacadas. 

Revista de Vinhos

Escala de 20 pontos

A Revista de Vinhos, da mesma forma que a Vinho Grandes Escolhas, também foca seu conteúdo no vinho, gastronomia e lifestyle de Portugal. Há mais de 30 anos, suas edições destacam, por meio de colaboradores e painéis de prova, o que de mais interessante acontece no mercado do vinho luso. 

Todos os anos, a Revista realiza o Encontro com Vinhos, uma mostra presencial aberta ao público com provas de vinhos, conversas com sommeliers e presença de produtores. 

Revista Adega

Escala de 100 pontos

A Adega é uma publicação brasileira de vinhos, gastronomia e lifestyle que foi criada em 2005. A Adega avalia diversos vinhos todos os anos, nacionais e internacionais, com grande relevância para os rótulos brasileiros. 

Guia Descorchados

Escala de 100 pontos

O maior e mais influente guia de vinhos da América do Sul. Fundado em 1998 pelo chileno Patrício Tapia, jornalista, que já foi degustador da inglesa Decanter, o Guia abrange, atualmente, avaliações de vinhos de Chile, Argentina, Brasil e Uruguai. 

Todos os anos, cerca de 10 mil amostras são degustadas, e as avaliações lançadas em especiais agrupados por países. Patrício e o Descorchados têm especial predileção por vinhos de menos intervenção, castas regionais e métodos de vinificação ancestrais, ainda que consigam fazê-lo juntamente à avaliação dos ditos vinhos convencionais. 

Críticos

Robert Parker

Escala de 100 pontos

Conhecido como o “Advogado do Vinho”, o americano Robert M. Parker Jr. exerceu por mais de 10 anos a advocacia, carreira que veio a abandonar em 1984 quando passou a se dedicar, exclusivamente, a escrever sobre vinho. 

Desde 1978, Parker já mantinha sua revista de vinhos, a The Wine Advocate (O Advogado do Vinho), no qual publicava suas notas e avaliações sobre rótulos em um então inovador sistema de 100 pontos, ante à escala de 20 pontos que vigorava até então. 

Parker foi, e talvez ainda seja, o crítico de vinhos mais influente do mundo. Sua predileção por vinhos carregados, tânicos, com muita fruta e madeira fez com que este estilo fosse chamado de Parkeirizado, com diversos produtores e mesmo regiões inteiras buscando elaborar vinhos ao estilo do crítico para que assim pudessem receber notas mais altas. Parker chegou até a ser processado e ameaçado de morte por produtores descontentes com suas avaliações. 

Atualmente, a Wine Advocate continua em atividade, apesar de Parker estar aposentado desde 2019 e a publicação The Wine Advocate ter sido adquirida pelo grupo Michelin. A Wine Advocate avalia cerca de 30 mil rótulos todos os anos, no mesmo sistema das grandes publicações internacionais. 

James Suckling

Escala de 100 pontos

James Suckling é um crítico americano, antigo editor sênior da revista Wine Spectator. Jornalista, Suckling acumula três décadas de experiência como crítico de vinhos e de charutos. Desde o início de sua carreira, acumula mais de 250 mil rótulos degustados e avaliados. 

Desde 2010, as informações e divulgações sobre vinhos estão agrupadas em torno da plataforma jamessuckling.com, que agrupa tanto avaliações quanto matérias sobre vinho e lifestyle. 

Suckling, atualmente, também utiliza editores para avaliarem seus vinhos, além dele próprio continuar degustando. 

Tim Atkin

Escala de 100 pontos

O Master of Wine inglês Tim Atkin escreve sobre vinhos há mais de 35 anos. Jornalista e também fotógrafo, Tim segue contribuindo para diversas publicações, como Harpers e Decanter, porém tem nas avaliações de seu site, timatkin.com, as bases de suas avaliações. 

Atkin percorre o mundo degustando vinhos, e seus reports de diferentes regiões são liberados anualmente, após viagens e degustações. 

Jancis Robinson

Escala de 20 pontos

Uma das mais influentes mulheres do mundo do vinho, a Master of Wine inglesa Jancis Robinson começou a escrever sobre vinhos em 1975, como assistente de edição da revista Wine & Spirit. Jancis foi, por muitos anos, consultora de vinhos da companhia aérea British Airways, sendo responsável pela adega do luxuoso Concorde. 

Jancis publicou algumas das mais respeitáveis obras sobre vinhos já escritas, como o The Oxford  Companion to Wine e o The World Atlas of Wine, este juntamente com Hugh Johnson. 

Contemporânea de Robert Parker, Jancis foi considerada pela imprensa como a antítese das avaliações do americano, embora os dois mantenham uma relação cordial até hoje. 

Marcelo Copello 

Escala de 100 pontos

Um dos mais influentes formadores de opinião da indústria do vinho no Brasil, Marcelo Copello também é professor, palestrante e organizador de eventos como o Rio Wine and Food Festival, no Rio de Janeiro. 

Copello também colabora para diversos veículos no Brasil e exterior, mais notadamente para a Veja São Paulo, a Veja Rio e, por anos, foi colunista do jornal Gazeta Mercantil.

Pontos, uma ideia final

Os pontos funcionam como marcas: são importantes signos de qualidade de um produto, que chancelam, de forma independente, o que dizem vinícolas e revendedores. Eles facilitam a escolha dos consumidores e dão importantes sinais de qualidade. 

Não são, porém, garantia de que se vá gostar de um vinho. Portanto, conheça os críticos, use as pontuações sempre que possível e não deixe de experimentar algum produto apenas por não ter sido ainda pontuado. A sua opinião, na hora de tomar o seu vinho, é a que mais conta. 

 


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