
Terra de minifúndios e pequenos produtores, a Bairrada é tradicionalmente conhecida pela longevidade e elegância de seus vinhos. Saiba mais sobre esta peculiar região portuguesa.
Localizada na região centro-norte de Portugal, banhada e influenciada diretamente pelo Oceano Atlântico, a Bairrada é uma das regiões vinícolas mais antigas do país. Sua capital, Coimbra, foi, por muitos anos, também a sede do Reino de Portugal,e sua Universidade foi uma das primeiras e mais importantes do mundo.
Marcada por colinas e terras planas, com altitudes que dificilmente ultrapassam os 150 metros, a Bairrada é marcada por uma diversidade muito grande de solos, divididos, principalmente, em argilosos, argilo-calcáreos e arenosos. Estes são os grandes responsáveis pela enorme plasticidade dos vinhos regionais, cuja produção em estilo também é muito variada: tintos, brancos e rosés dividem espaço com espumantes de qualidade internacional.
Baga, a uva teimosa, patrimônio da Bairrada

É impossível falar de Bairrada sem mencionar os tintos elaborados com a Baga. A variedade tem a história característica de originar vinhos tintos “difíceis”, muito tânicos e duros quando jovens e que, em alguns casos, demandavam duas décadas de amadurecimento em garrafa até que pudessem ser bebidos com prazer.
Este estilo, longe de ser o mais procurado pelo bebedor de vinhos atual, muda com a chegada de novas técnicas tanto na vinha quando na vinícola. Diversos exemplares de tintos baseados em Baga, como o Regateiro Jr, apresentam um estilo mais pronto para beber, frequentemente cortados com outras uvas tradicionais da região, como Castelão e a onipresente Touriga Nacional.
Casimiro Gomes, um dos fundadores da Lusovini e proprietário da Regateiro, marca com 350 anos de história na Bairrada, destaca que, independente do estilo, os tintos feitos com a variedade nunca perdem uma característica fundamental. São sempre vinhos gastronômicos, que pedem comida, especialmente as tradicionais da região como o Leitão à Bairrada e a Chanfana.
Brancos e espumantes frescos e longevos
Para além dos tintos, a Bairrada também elabora deliciosos brancos, além dos espumantes mais conhecidos de Portugal. Nos brancos, o caráter cítrico e fresco, além da salinidade, são características marcantes. Os vinhos são igualmente longevos, e seu caráter se altera, com o passar do tempo, de um frescor marcante para um vinho complexo, às vezes resinoso, muito agradável ao paladar.
Já os espumantes marcam a vida cotidiana dos moradores da Bairrada. Casimiro Gomes conta que, na região, ao invés de oferecer um café as pessoas são convidadas a tomar uma taça de espumante. A Baga representa a espinha dorsal dos espumantes da região, frequentemente cortada com as tradicionais variedades brancas.
Vinhos gastronômicos, pratos deliciosos
Como já dito, os vinhos da Bairrada se destacam por serem gastronômicos, pedirem o acompanhamento de comida. Os pratos mais tradicionais da região, portanto, são suas principais companhias.
O mais conhecido é o Leitão à Bairrada. Preparo familiar, de festa, consistem em um pequeno leitão, de 7 a 8 quilos, temperado com uma mistura de sal, ervas e especiarias e assado lentamente em fornos de barro. A carne tenra e saborosa dá contraste à pele crocante, fazendo um par perfeito que harmoniza muito bem com tintos e espumantes.

A Chanfana é um ensopado onde diversos cortes de cabra ou carneiro são cozidos em panelas ou assadeiras de barro por diversas horas. Muito quente e pesado, é um prato decididamente de inverno, e pede a companhia de tintos mais encorpados.

Outra iguaria é a exótica caldeirada de enguias, outro ensopado preparado com enguias, principalmente no entorno de Aveiro, cebolas e batatas e temperado com cúrcuma e gengibre, onde os vinhos brancos mais perfumados são o melhor acompanhamento.